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26, March 2020
Como o coronavírus impacta o dólar e por que ele está tão caro?

Junto à notícia da pandemia do Covid-19, você deve ter visto nos noticiários que a moeda americana atingiu a marca histórica de 5 reais. Mas você sabe por que isso acontece?

Quando há uma crise, as pessoas sempre buscam proteção. Desse modo, nós evitamos situações de risco e queremos segurança. No mundo financeiro não é diferente. Muitos investidores, ao menor sinal de uma crise, revisam suas expectativas sobre o futuro. Se antes eles esperavam lucros, agora há o risco de acumularem prejuízos. Como resultado, muitos investidores passam a se desfazer de suas ações, títulos e posições que antes faziam sentido, para nesse momento terem recursos em caixa ou em investimentos menos arriscados.

Você deve imaginar que existem muitos investidores internacionais no Brasil. Assim como qualquer investidor, eles também buscam proteção nesses momentos, se desfazem de seus investimentos e saem com seus dólares retornando ao seu país de origem. O dólar sempre foi visto no mercado financeiro como um porto-seguro. Quando está tudo um caos e há muitas incertezas sobre o futuro da economia global, os investidores guardam parte de seu patrimônio em dólares e diminuem suas posições mais arriscadas, como em países emergentes, por exemplo. Por isso, em momentos como esse, há um aumento forte da demanda por dólares, e como a oferta não mudou, a tendência é que o seu preço suba. 

Além disso, não é só o Coronavírus que fez o preço do câmbio chegar no patamar atual, vou te apresentar um outro conceito muito importante para entender a precificação do câmbio. Em nosso país, a taxa de juros básica do governo (Taxa Selic) é o instrumento que o Banco Central usa para domar a inflação. As taxas de juros sempre foram muito altas por aqui, pois precisamos nos esforçar muito – dado nosso passado de muitos surtos inflacionários – para que os preços permaneçam onde estão. Não se preocupe, escreveremos ainda um texto explicando como essa coisa toda de política monetária funciona.

O que importa é que hoje, graças à boa gestão dessa política, a inflação está bem controlada. Com a inflação controlada, e com a economia brasileira precisando de estímulos (principalmente após nosso recente período de recessão entre os anos de 2015 e 2017), o Banco Central brasileiro pôde então reduzir consistentemente a taxa básica de juros nos últimos anos. Como você deve imaginar, no passado, muita gente se aproveitou dos juros altos da nossa economia. E não foram apenas os investidores brasileiros, mas também muitos investidores globais. Estes últimos possuem acesso a investimentos em diversos países, e concentram seus investimentos em países onde as taxas de juros do governo são muito baixas, ou, em alguns casos, até negativas. 

A diferença entre a taxa de juros brasileira e a estrangeira é o que chamamos de diferencial de juros. Como essa diferença era muito grande, fazia sentido para os investidores globais se endividarem no “mundo desenvolvido” (América do Norte e Europa principalmente) e investirem por aqui em títulos de baixíssimo risco e com uma remuneração muito superior. Logo, a quantidade de dólares disponíveis no Brasil era muito maior, o que levava a uma cotação mais barata. Em “economês”, esse movimento de investidores estrangeiros investindo em outros países com taxas de juros maiores é chamado de carry trade.

Mas agora tudo mudou.

Como temos juros muito mais baixos, esse diferencial que acabei de falar caiu, e muito. Como o mundo é muito grande e tem diversas opções de investimentos, surgiram outras opções mais rentáveis (ou com menor risco) para esses investidores, e assim lá se foram eles com todos os seus dólares. Consegue adivinhar o resultado? Esse movimento gera uma escassez dessa moeda no Brasil, e quando muita gente quer muito uma coisa que está em falta, o preço dela só pode subir, não é!? É a famosa lei da oferta e demanda mostrando sua força.

Espero ter esclarecido os principais motivos da escalada do dólar nos últimos tempos. É sempre bom ficar antenado e estudar para se planejar. Planejamento para tempos de crise é essencial!

Ainda vamos abordar muitos outros conteúdos por aqui. Fiquem ligados e acompanhem o nosso blog!